segunda-feira, 23 de março de 2009

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem... Sou um reflexo...um canto de paisagem Ou apenas cenário! Um vaivém Como a sorte: hoje aqui, depois além! Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem De um doido que partiu numa romagem E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!... Sou um verme que um dia quis ser astro... Uma estátua truncada de alabastro... Uma chaga sangrenta do Senhor... Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados, Num mundo de maldades e pecados, Sou mais um mau, sou mais um pecador...Florbela Espanca
Não sei quem sou, que alma tenho.Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...Sinto crenças que não tenho.Enlevam-me ânsias que repudio.A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me pontatraições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,nem ela julga que eu tenho.Sinto-me múltiplo.Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticosque torcem para reflexões falsasuma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,eu sinto-me vários seres.Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,como se o meu ser participasse de todos os homens,incompletamente de cada (?),por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."Fernando Pessoa
Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.Clarice Lispector